3 de julho de 2007

Cidade de sítio




A praça está cercada!

Abro o portão de ferro cinzento.
Como sempre, indiferente à placa:
EM OBRAS. ENTRADA PROIBIDA.

Quem vai proteger?

Um espaço público gradeado
Protegendo o público,
Ou o privado?


Ao fundo está lá o Mestre de Obras.
Uns setenta e poucos anos.

Olhos precisos.
Eu gostava de vê-lo.
Inspecionava.
Mas tinha o respeito dos operários

Quando passava, quase invisível,
em suas poucas palavras.
Andar veterano.

Camisa azul cimento,
com bolsos recheados.
Maço de cigarros, caneta e papeis?
Talvez.
Parece um major aposentado.
Modelando a barriga gorda,
o cinto de couro descascado.
Trena e canivete de prontidão,
Boné empoeirado.

Na manhã anterior fiz questão de chegar nele:
Parabéns pelo trabalho!
Os outros a sua volta mantém o silêncio,
buscam a cumplicidade.
Pra não dar bandeira,

Ele agradece
sem tanta cerimônia.

O seu valor se guardava mais ali por dentro.
Sem se importar com qualquer inauguração.
Ao mesmo tempo,
o desapego
abria-lhe um rasgo assustador.
Sem mais caminhões, fumaça,
Gritos, marretadas e nem trator.
Sobrava o peso da questão:
Quantas mais me restarão?

Um parque de obras...
E que belo quintal!
Logo o jogo estava terminando.

A praça vai de bandeja
Para algumas cobras.

Paisagistas, publicistas
e oportunistas.
Sob os óculos escuros,
Eles relampejam, buscam imprensa.
Pousam em carros reluzentes,
Celulares à toda potência.

Deixo a praça inflamada,
Recém-maquiada por novas mudas,
E sigo outro caminho.
Encontro um cheiro de lar pelas ruas,
que perfuma a manhã com goiabada.

O amor que emana
Do giro de uma colher de pau.
Sem grades, câmeras
Nem nada.
É Goiabada Cascão...
Cheirando a esperança
Depois café...

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